A surpresa de uma viagem a um lugar distante encheu-me de alegria e insegurança, uma vez que nunca havia saído de minha terra natal. Mais do que isso era o desejo do desconhecido ou, como todos nós conhecemos, a vontade de atravessar fronteiras e ver com olhos de estrangeiro o outro e principalmente sentir o novo lugar.
Nada como vivenciar novos cheiros e poder sentir na pele outro clima, inverno, frio, sotaque sulista...estava no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Passo Fundo, para mim outro país...onde as palavras e o sotaque eram mais do que desconhecidos...na época não me importei com a diferença, mas hoje percebo nitidamente que este foi o começo de uma longa história que na verdade ainda não encontrou seu fim.
Apaixonei-me pela dança tradicional gaúcha e pelos gaúchos, é claro. Que povo bonito e educado. Que loucura, ainda estava no Brasil e havia conhecido um espaço além da fronteira da minha pequena-grande São Paulo, meu berço e meu refúgio, meu cárcere e meu túmulo.
A dança, como sempre, proporcionou-me este conhecimento e como tal, plantou em mim esta semente errante: a vontade de viajar e conhecer o outro distante.
Alguns anos depois, estava eu embarcando para o Japão. Tinha apenas dezoito anos e já estava perdidamente apaixonada, enamorada de um jovem artista plástico que por sua vez plantou novas sementes em mim: a arte e o gosto pela leitura. Além do querer escrever...naquela época não havia tanta afinidade com as tecnologias, então a carta era o veículo mais expressivo e sensível que dois apaixonados poderiam ter. Nunca me esqueço da espera e da sensação de chegar da rua, abrir a caixa de correio e receber a tal carta...(nunca mais senti esta magia, já que os emails são tão imediatos e fugazes).
Lembro-me com orgulho as vezes que com um microfone consegui gravar coisas que gostaria de falar pessoalmente e é claro músicas que me faziam companhia até então...fechava-se um velho ciclo...
Os anos foram passando e a vontade nunca morreu, pelo contrário, cresceu e tomou proporções inimagináveis...logo estava eu me mudando para Minas Gerais, com uma mala cheia de amarguras e de desilusões, mas ao mesmo tempo, cheia de esperança de um amor perfeito, daqueles que perdoa e tenta curar as feridas e as amarguras do que se passou...
Mais uma vez, a vida mostrou sua verdadeira face e por infortúnio ou destino fui trocada por outra paixão...amor...sei lá...
Inferno, buraco negro...o lugar por onde andei meses...inconsciente e ao mesmo tempo ciente da troca...cruel e necessária...quase morte...oportunidade para um renascer em mim, não era mais a namorada do...era a Dani...a mulher...a que teve que calar e esperar...
A cidade de Belo Horizonte vista da praça do Papa é perfeita, e só pude perceber quando fui levada pela pessoa que se tornou uma das mais importantes para mim em BH: Carolina...como esquecer a imagem, o traço, as palavras, o abraço amigo...nunca, é como uma tatuagem que ficou e marcou o início de uma nova e grande amizade.
Ahhhhhh e o vento, como gosto dele...como gosto de viajar com ele...
A falta, a sempre presente ausência, é a minha companhia.
Agora histórias, contos, poemas. Palavras ao vento...em busca de um momento, o tempo.
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